quarta-feira, 5 de maio de 2010

Maria e o Mês de Maio




Uma longa tradição dedica o mês de maio, de maneira especial, à devoção mariana. Na Bíblia, certos dias, semanas são consagrados ao culto, de modo particular. Em cada dia Deus deve ser honrado, a Fé praticada, a Devoção vivida. A natureza humana, entretanto, sente-se ajudada, quando certas datas são escolhidas e recebem destinações apropriadas.

Há festas obrigatórias e há festas facultativas. O mês de maio se coloca entre estas, mas o seu conteúdo e suas possibilidades atingem tal grau que é difícil ao pastor zeloso encontrar razoável explicação para omitir-se nessa salutar prática religiosa.

Durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou solenemente que Maria é a Mãe da Igreja, explicando a seguir, no seu “Credo do Povo de Deus”: “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, Mãe da Igreja, continua no céu a sua função maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”.

O Santo Padre João Paulo II, em seu extraordinário magistério acerca da Virgem Maria, comenta e declara: “Maria está presente na Igreja como Mãe de Cristo e, ao mesmo tempo, como a Mãe que o próprio Cristo, no mistério da Redenção, deu ao homem na pessoa do Apóstolo São João. Por isso, Maria abraça, com a sua nova maternidade no Espírito, todos e cada um na Igreja; e abraça também todos e cada um mediante a Igreja. Neste sentido, Maria, Mãe da Igreja, é também modelo da Igreja” (“Redemptoris Mater”, nº 47).

Não se trata de uma mera devoção sentimental, nem tampouco de simples questão de gosto pessoal. A piedade mariana deve fundamentar-se em sólidos questionamentos bíblicos, para podermos acolher o dom da Redenção operada por seu Filho e encarar a realidade deste mundo em função da “parusia”, triunfo definitivo do Senhor e plenitude do Reino.

A Pastoral procura conservar os valores locais. O Concílio Ecumênico Vaticano II nos diz em “Lumen Gentium”, nº 13: "O Povo de Deus, em virtude da catolicidade de cada uma das partes, traz seus próprios dons às demais e a toda a Igreja”. Nosso povo se encontra profundamente marcado pelas comemorações marianas no mês de maio. Mesmo quando a fé é fraca ou falha, dá excelente possibilidade para um reencontro com o próprio Cristo e o mistério da salvação, que nós celebramos e exaltamos, enquanto veneramos Maria como o primeiro e o mais pleno fruto da obra redentora.

Quando insisto na celebração do mês de maio, não me refiro necessariamente à continuidade de determinadas práticas externas, mas ponho a tônica no espírito da devoção mariana, que deve ser incentivado nessa oportunidade. A clarividência do zelo de cada sacerdote indicará o que fazer e como fazer.

Onde for conveniente conservar a antiga apresentação do mês de maio, ninguém se esqueça de examinar o que deve ser empregado para uma constante e mais pura renovação do conteúdo autêntico, embora em formas tradicionais, para que esta legítima tradição brasileira não venha a desaparecer junto às gerações que surgem.

Três características estarão sempre presentes. A primeira é a maior divulgação da palavra de Deus, transformando-se o mês de maio em um período de evangelização mais intensa, evidentemente marcada pelo aumento da verdadeira devoção mariana. A segunda é a maior aproximação sacramental, notadamente a sagrada comunhão. A terceira é o crescimento da caridade em todo o Povo de Deus, como fruto da Fé e consequência da Eucaristia. Maria é a serva de Deus (“Magnificat”) para a salvação dos homens. Todo cristão é chamado para este serviço de amor e entrega, sem os quais uma comunidade não é cristã.

Longe de afastar do Cristo, a esclarecida devoção a Nossa Senhora a ele conduz. Porque ela foi o instrumento para introduzi-lo no mundo, dela nos devemos valer para sermos levados, através do Redentor, ao seio do Pai. O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” dedica o capítulo 8º à Devoção Mariana e nos oferece rico material a ser bem aproveitado durante o mês de maio.

Em meios às dificuldades, emerge a figura de Maria, protótipo da Fé, modelo da união com Cristo Redentor, exórdio da humanidade salva e Mãe da Igreja.

Aos que sofrem, aos desesperados, aos que sentem a revolta ou o aguilhão da miséria, aos que necessitam da ajuda de Deus e dos homens, fazemos o nosso convite: renovem a fé profunda em Cristo, da qual Maria é nosso modelo; aproximem-se de Nossa Senhora, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Incorporem-se aos louvores marianos de sua paróquia ou celebrem em sua própria casa. Façam crescer, dentro de si, o amor e a confiança na Mãe de Deus e nossa Mãe. Com Maria encontraremos o Cristo, o Redentor, e nele se renovará a vida cristã.

Realizemos, pois, em nossa vida o que pede o Vaticano II: “Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade” (“Lumen Gentium”, nº 69).

Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

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